domingo, 6 de outubro de 2013





Percorri-te por entre os antigos edifícios da cidade. A brisa acompanhava-me enquanto aos poucos me perdia nas velhas e altas fachadas desbotadamente preservadas pelo tempo. Mas o folego faltava e a respiração ordinária tornava-se cada vez mais ofegante. Mais uma vez, permanecer fora da infinidade da minha loucura seria o local seguro, mas caminhei ao teu encontro, ao encontro dela mesma na seu estado bruto. Encaminhaste-me para um jardim, um dos maiores que alguma vez havia avistado. Ostentava um enorme lago que era atravessado por pequenas pontes. E eu escolhi a ponte de pedra, por ser  mais segura. Talvez. Mas ainda assim, os meus pés vacilaram enquanto caminhavam. Cheguei ao outro lado e não te encontrei. Encontrava-me surrealmente cercada por arvores que se estendiam magicamente até ao céu. Contavam-me histórias dos tempos anteriores e eu apenas lhes sorria com os olhos consumidos pelo esplendor que assistia. Sentei-me silenciosamente a conversar com uma e foram inúmeras as vezes em que perdi os enlaces das histórias que contava.  Pequenos círculos eram formados na superfície do lago, transformando-o num espetáculo imenso onde a Natureza se envolve numa só.  Despedi-me da sombra que me abrigava da chuva e caminhei rumo à ponte de madeira, recuperada do receio que antes se apoderara. Avistei-te do outro lado. Sorriste.  Mas a confusão entrelaçou a minha mente num ápice. O teu sorriso, podia apenas ser um vislumbre irracional. O teu sorriso, esse que tinha sido sempre melodicamente inexistente até aquele momento. Atravessei a ponte em instantes que o relógio não podia contar e cheguei a ti. Seguraste me nos teus braços e as nuvens demoradamente se abriram, deixando o sol aquecer os nossos corpos molhados da chuva que se antecedera. Soltei-me de ti, não o impediste, mas os teus olhos desatentamente fixaram. Em mim? Não. Mais do que isso. Em todo o meu ser. Provocando a tão habitual avalanche abaladora no meu peito. E a insanidade apoderou-se mais uma vez da mente destorcida. Não sorriste mais, como esperava que o tivesses feito. As pernas fraquejaram, mas o resto do corpo não se movia com medo de perder o equilíbrio restante. Caiu então sobre mim, a inabalável sensação de receio que tanto me caracterizava, perdi a força novamente e mentalmente desfaleci com a perda dos sentidos. Inspirei forçosamente, tentando sentir o ar a entrar, e recuperei essa tal de força novamente. Desmedidamente segurei o meu peito com medo que este se perdesse na imensidão vazia que se tornara o meu corpo e deixei-me cair avassaladoramente sobre o teto falso que antes me mantinha perigosamente segura. E então ela veio, de mansinho. Começando pela boca, que jurou secretamente não falar. Seguidamente os olhos, que pareciam secar o lago que nos fazia companhia. Ela, veio com toda a força que a caracterizava. A dor veio. E esta seria, a da perda, mais uma vez. Serenamente, seguraste-me a mão e durante breves segundos, assim permaneces-te. Inclinaste-te, beijando-me a testa e partiste. Permaneci estática vendo-te partir. No entretanto, as árvores lentamente te rodeavam, fazendo falsamente esquecer a tua existência permanente no inconsciente da minha alma, doentia.

3 comentários:

  1. Se foste tu que escreveste, os meus sinceros parabéns!
    Adorei :)

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  2. Sim, fui. O meu, muito sincero obrigada :)

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  3. Cheguei ao fim de lágrimas nos olhos... Muitos, muitos parabéns *

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