sábado, 21 de setembro de 2013



 

 
 
 

Noites quentes de novembro 
Emaranhada nos lençóis por entre sonhos a dentro. 
Irrespirável ar, de quem não sabia ficar 
Nem no porto, quanto mais em pleno mar.
Noites quentes de novembro.
O vendo refresca as faces,
e a mente perdida nos enlaces
a girar em direção ao centro.
 Noites frias de dezembro,
Perdida na ilusão,
Ilusória de ti mesmo.
Noites frias de dezembro,
Portões fechados a seis chaves,
Portas esbatidas na minha irrealidade.
Noites frias de dezembro,  
alegria encobrida pela fé de um outro mundo.
 Noites gélidas de Janeiro,
E a vista para a cidade,
Como de quem não sabe.
como de quem não sabe, nada.
Noites gélidas de janeiro
A alvorada perdida,
em soluços e desvaneios.
Noites gélidas de janeiro
e o medo de ter,
o medo de perder,  
aquilo que é nada. 
Aquilo que sempre foi o nada.
 Vem, ser a minha paz imunda
que se centra só em mim.
Vem, ser aquilo que eu sempre quis
Embora infeliz de quem nunca teve nada
nada de verdade.
 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013



(...) A janela não me incomoda aberta. Por muito que incomode a tantos, a mim não. Sei que assim os outros verão tal como os poderei ver a eles, mas acredito que não o faram, pelo menos por agora. E este agora, é que interessa. Precisamente o agora em que consigo sentir as pálpebras a fechar e o meu corpo a pedir para se deitar, assim como a minha mente a suplicar por mais um daqueles sonos, ou sonhos tão irreais que me arrastam da confusão desta tão suposta realidade. Resisto a fecha-las, porque a vontade de ver estas palavras correr à velocidade da minha mente é demasiado tentadora para uma mente tão perdida quanto a minha. Os ponteiros do relógio tão pouco me incomodam, mesmo sabendo que para muitos outros eles estejam fixos  na escuridão da noite, ou então ocultos pelos pesadelos arrastados das realidades deles mesmos.  A janela esta aberta e sentada na cama consigo avistar o céu. Está escuro, mas com tons de laranja.

 

terça-feira, 10 de setembro de 2013


 (...) de ti.
 




É consumir me da ideia de ti. Da ideia da distância tão permanente abraçada na brisa que me entrega noticias de ti. Na capacidade folgaz de te permanecer mais um pouco na irracionalidade mais dispersa de mim. É corromper a alma já antes roubada pelo fio do desejo de te ter, não em mim, não em ti. É dividir mais uma das milhares de vezes as partes já partidas da minha metade lesada pelo todo inexistente de ti. E respirar o folego tão teatral que se perde na insanidade do palco, com vista para a plateia que são os teus olhos não presentes. Imerso no todo. Nesse todo ilusório de ti. Na imagem guardada a sete mil chaves. Imagem retorcida do teu rosto séptico, pendente dos meus movimentos, das palavras mal expressadas e dos atos absurdamente desligados da capacidade de me rodear de ti e apenas de ti. Dos talvez sentimentos descritos por palavras no calor da distancia que antes nos desuniu. Da vontade inexplicável e incompatibilidade compatível de te ter no mais vago dos suspiros suspensos em mim. Por isso queria, queria a alma corrompida arrastada pela maré das águas do rio, inexistente. Por isso não sei se queria. Mas queria sim, respirar de ti a força do vento naquele Inverno frio que emanava nostalgia e presença tua. Por tudo isso e por mais mil histórias de loucura deitadas à sorte, queria. Pensas tu que não queria? A certeza de um todo de ti é alucinadamente substituída pela derradeira clonagem dos métodos inexperientes impostos por mim. Por isso digo com a força das pedras, não da calçada, do rio. Essas que se moldam, tal como me moldei inconscientemente à ideia de ti, por mais penosa que se ressentisse no meu tão disperso espírito. Pensas tu que não queria? Viveria de ti, até ao tempo das palavras secretas escritas não em paredes, mas em folhas desbotadas, pena e tinta. Até lá, Jane Austen pesaria nas minhas estantes e no meu pensamento já carregado de ti. E mais uma vez, viveria de ti até ao vislumbre do pôr-do-sol e depois dele. Mesmo rodeados de desequilíbrio e cordas bambas, mergulharia na imensidão e na imunda paz que me traria, por isso, novamente porque me consome, viveria. Diz-me então com palavras de papel desbotado, pena e tinta se não viveria eu de ti. Porque no pôr-do-sol mais próximo, as ondas vão levar-me e deslumbrar-me ilusoriamente por um outro que em pouco se assemelha a ti. Na tentativa de não desesperar no perdido passado, tentarei ser sem a ideia de ti. Passarás a ser apenas a capa de um livro entreaberto que com as mãos sumidas pelo medo hesitei em abrir, perdendo então o enredo, as personagens e toda uma viagem. Tudo pelo receio de descobrir que afinal és mesmo feito de papel desbotado, pena e tinta.  

segunda-feira, 9 de setembro de 2013



 
 
Podia ter parado para escutar o som dos grilos, mais uma vez. Tão banal, mas por breves segundos tão valioso pela possibilidade de ser uma ultima vez. Ao invés disso, prossegui apressadamente para o quarto, como todas as noites, com a não pressa de dormir. Queria escrever, não sobre o quê, ou sobre quem. Mas sim, sobre como. Como de mil e uma maneiras a minha mente se desfez em pedaços de literatura espalhados pelas faces pálidas e rostos desvanecidos da sociedade. Como  tanto e tão pouco se redesfaz em mais pedaços, espedaçados por pequenos pedaços de momentos. A tão certeza de uns e a não precisão dos mesmos. É encontrar a certeza mais do que uma centena desmantelada de vezes. É perde-la no breve e longo pensamento de ti. Naquele habitual que me corrompe a mente e que tão perfeitamente conhece as minhas veias, de as percorrer a uma velocidade extravagante. Mais uma válida minúscula oportunidade te me rodear de ti e uma desculpa escanzelada de me recordar de ti, como hábito de certo duvidoso e conflituoso com ele mesmo.