sábado, 28 de novembro de 2015

A base é simples e limpa de todos os excessos. É clara e com foco. 
Mas depois as camadas que se sobrepõem sufocam a base e transformam a simplicidade em distúrbio obscuro e constante.
Respira vida e deslumbramento e asfixia na dor de se perder o que se tem próximo ao peito. Respira dor e sufoca no deslumbramento.
Aos rodopios dentro do circulo vicioso e confortante que nos enche de um calor frio ausente de especulação. 
Como se os violinos estivessem sempre a tocar, durante todas as cenas, durante todas as camadas que se sobrepõem. Aumentando e diminuindo a intensidade e volume.

Aumentando e diminuindo.


quarta-feira, 15 de julho de 2015

A tua voz. Por agora não a consigo ouvir, mas sei que a adoro. 
Adoro-a como o som vibrante da cidade que me deixa nervosa e ansiosa por mais. 
Fazendo procurar-me mais uma vez.
Perco-te porque não me encontro e vai ser sempre assim. Nunca te encontro. 
Talvez por não saber como encontrar-te. 
Talvez por nunca te ter encontrado.
(e) tu nunca te entregas.
(e) eu que te recebo, 
das tantas formas possíveis. 
Impinjo em mim tudo de ti e abraço-me com medo. 
Medo de te receber de verdade.
Por isso paro e respiro. Não estás aqui, nem ali. 
Não estás.
Mas eu respiro e se respiro, lembro-te.
Lembro sempre.
Respiro.  

domingo, 28 de junho de 2015


Cai sobre o tapete do quarto o cheiro do teu perfume. Penetra-se por todas as divisões e entranha-se nas roupas e cortinados. Com ele chegam e partem as doces lembranças mas com um peso tão leve que estas se soltam das amarras do inconsciente de uma forma tão subtil.
Paira sobre o ar, aquela doce mas tão amarga lembrança de ti, aquela resistente que abafamos inconscientemente de cada vez que as tuas histórias são recontadas.
Andam soltas pela casa centenas de imagens, mas chega apenas uma pequena moldura na beira da lareira da sala, para nos fazer olhar-te, fora do pensamento.
“Esta madeira é resistente” penso assim que me levanto da cadeira de baloiço há muito colocada no alpendre. Oiço-a ranger e sinto a avalanche de memórias que passam de uma forma tão áspera mas também serena que me amacia e transforma a saudade.  



quarta-feira, 28 de janeiro de 2015



Ela está longe agora.
Sobrevoa os telhados de vidro das noites perdidas. Ela corre por entre as ruelas, descalça e ofegante à procura do chão. Ela canta num grito silencioso, enquanto os murmúrios abafam toda a melodia da sua voz. Ela agarra o vento com a ponta dos dedos e este entranha-se em forma de gelo na sua pele. Ela cai. Cai no chão, sem relevo, sem nada no caminho. Ela cai e espera que passe. Então senta-se e dobra-se sobre si mesma abraçando-se. Sussurra aquela mesma melodia. O frio toma conta dos seus lábios, do seu rosto, do seu corpo. 
Ela acorda, para mais tarde voltar.