Lá estava ela, a segurar naquele tão pequeno coração. Naquele pedacinho de vida. Segurava-o enquanto o aconchegava na sua manta preferida. Era aveludada e de cor escura mas viva. Ela dizia que era uma manta especial. Talvez por já ter viajado por terras não tão longínquas mas receadas. Talvez também porque de quando em quando, é aconchegada pelas memórias que esta lhe traz. O pequeno tinha nos olhos vida e não foram necessários mais do que poucos segundos para também ela se deixar levar. Levar pela curiosidade do desconhecido e adormecer as imagens que levavam a sua mente num rodopio. Não demorou muito tempo até perceber que elas não se iam embora, as lembranças, por isso não precisava agarrar-se a elas com tanta força. Com tanto sufoco, com tanto peso e sem medida. Como sempre o fazia. Sentia o peito a explodir com tanto que não podia aguentar, nem quantificar, que se perdia ao tentar encontrar-se na confusão que criara. Imaginava a sua própria mão a ir em socorro de si mesma. Dentro de si mesma. Envolta no desencontro, despediu-se do caos e voltou-se para a pouca luz que deslizava por entre a janela fechada. Com um sorriso leve no olhar, abriu a janela.