Estás do outro lado. Apesar de respirarmos da mesma forma,
somos tão diferentes, Olhando de dentro, agarras uma parte do meu mundo e
agarras de outra forma que não a minha. Aflige-me que tenhas o mesmo poder que eu
e o uses de forma diferente, e assusta-me que possas algum dia usa-lo da mesma
forma que eu.
Não quero. Não te quero aqui. Sai.
Volto a olhar de dentro e estás mais perto, aproximas-te do
vidro que nos separa e olhas-me como se estivesse em exibição premeditada.
Exibição da aberração de comportamentos controlados pelo
peso dos olhos colados nos movimentos roubados pela falta de força.
Luto de volta, porque não te quero aqui, outra vez. Mas
quero-me aqui, por isso sai.
Sai do outro lado do vidro. Larga a parte do meu mundo.
Larga o poder. Sai.
Mas continuas a olhar.
Não sais.
E eu, fico. Luto de volta com a aspereza de não saber mais,
de não ver mais. De não saber querer mais.
Então eu perco. Penso eu. Então eu perco.
E tu, pareces ganhar, porque depois sais de cabeça erguida.
E eu fico de cabeça erguida, mas com mil e um fragmentos de um peso que não tem
medida e me destrói cada vez que respiro.
Agora só vejo as tuas costas enquanto abres o teu caminho
por entre os teus já caminhos.
Preparo-me para o impacto. O peito rebenta, os joelhos
enfraquecem e as mãos agarram o que sobra de mim, ao perceber que as distancias
do vidro eram as mesmas. Ao perceber que ambas assistíamos o mesmo, mas ninguém
era o alvo e não haviam grades a cercar nenhum dos lados do espelho.